
Sou lagarta de fogo sertaneja
Que entre chamas cresceu nesse torrão
Dia a dia lutei minha peleja
Entre os ares ardis da imensidão
Proclamando o furor da natureza
Pelos cantos ruinosos desse chão
Sou amarga cachaça de alambique
Meu veneno dói mais que traição
Fiz-me moça rapaz e metamorfo
Sem destino sem voz e sem perdão
É assim que construo minha vida
Arrastando-me a esmo em procissão
Tenho as cores primárias da bandeira
Mesmo assim permaneço escondida
E nas folhas eu armo uma mordida
Pra quem ouse tocar-me sem aviso
Sou moléstia sem cura e sem juízo
Zombeteira imoral e desmedida
Se da vida só tive sol e fogo
Tudo herdado entre várias toxinas
Sou talvez até imune a vacinas
Pois é essa a sorte que carrego
Não me julguem cruel sou um espectro
Da vertigem dantesca nordestina
2 comentários:
A poesia que mais gostei de seu blog, sem desmerecimento das demais, essa é perfeita!
-Obrigado Saulo! Esse elogio vindo de você me deixa realmente muito feliz. Ai está, é essa a nossa arte de encarar a vida por meio dos versos.
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