sexta-feira, novembro 16, 2012

Sobre os instantes e suas lições



Era uma cena quase atemporal
Um velho filme na TV
Um vento frio que soprava
Por entre os vidros da janela
A bater...
Um murmúrio ventilado
Que me convidava a sair
Sair de encontro a vida
Sair de encontro a imensidão
E por entre a praça que se estendia
Repousavam as velhas árvores
Dançando ao balançar de seus galhos
No vento assobiante que teimava
A bater...
Jamais me esquecerei daquela noite
Dos barulhos vazios
Dos sentidos ocultos
O mundo é uma ilusão concreta
E entre os devaneios que surgem
Sombras, ruas, luzes, solidão
Percebo o quanto o tempo é impiedoso
Ele nos arrasta por entre suas tramas
Para extrair de nós os momentos
E nos iludir com os instantes
Como a areia que sopra
Construindo morros e formando desertos
Mas dentro de nós o coração persevera
A bater...


domingo, outubro 28, 2012

Liberdade



Deixo o vento correr solto.
Varrer mundo, girar livre.
Não sou o dono do mundo.
Sou um mundo. Nada mais.
E neste mundo só cabe,
Aquilo que bem me quer.

sábado, outubro 27, 2012

Sobre aquilo que sou e aquilo que poderia ser

A calçada,
O muro,
O céu,
O sol,
A tarde,
O horizonte,
Quero tudo isso.
Tudo isso e minhas coleções,
Velharias, nada mais.
A objetividade das coisas me incomoda.
Quero apenas minha arte medíocre.
Nada mais...
É triste viver num mundo pelejando para sobreviver.
Tecer histórias, buscar caminhos hierárquicos, burocracias cruéis.
Não quero ser artista, é muita pretensão almejar tal façanha.
Quero apenas minha arte, nada mais.
Minha arte e nenhuma promoção.
Seria tão fácil...
Tão cômodo...
Mas não sou e nem quero ser artista.
Quero apenas a minha arte e isso sem dúvida é pedir demais.





quarta-feira, abril 04, 2012

Juramentos

Eu quero um pouco de olhar

Manso-forte-rubro-puro

Pelo brilho destes olhos

Quero enxergar o futuro


Tenho um desejo profundo

Que teimo em silenciar

Beijar teus lábios maduros

Beijo pra desamargar


Venha sem medo oh neguinha

Dê-me cá a sua mão

Pisa na grama comigo

Deixa buracos no chão


O sol já está se pondo

Cor caramelo tição

Surgem pontinhas de estrelas

Para nossa ajuntação


Se eu fosse mais sabido

Roubava um pouco da lua

Para fazer-te uma capa

Cobrir tua pele nua


quarta-feira, março 28, 2012

O Buraco

Vamos todos pro buraco

Tomei no buraco a vida inteira

Quanto maior o buraco

Maior é a bagaceira


O buraco é inevitável

Vai rico pobre e ateu

Desde o início do mundo

Buraco prevaleceu


Todos nós temos buraco

Em vida ou depois da morte

O destino de um buraco

Depende também da sorte


Buraco é democracia

Cuidas do teu e eu do meu

Mas alguma vez ou outra

Tem gente que empresta o seu


Eu sou muito agradecido

Ao buraco que é meu

Zelo por meu buraquinho

Compartilho ele com o teu


terça-feira, março 27, 2012

Alguns Versos Confusos

Aos poucos os sonhos murcham

Como flores

Para depois renascerem

Multicores


Aos poucos vou mergulhando-me

Em dores

Para em seguida reacender

Amores


Os ciclos curvos elípticos

Redemoinhos de ar

Sopram poeira nos ventos

Pras novas terras formar


Reclusão de pensamentos

Anestesia frugal

Luta entre forças e alentos

Dança do bem e o do mal


Canção da lua partida

Imaterial

Teia confusa da vida

Irreal


quarta-feira, dezembro 21, 2011

Sinfonia Da Agonia

Tomarei mais um gole de poeira

Brindarei aos escombros do passado

Qual rastilho de pólvora e devaneio

Sobre os ombros de um anjo alquebrado


Meu cantar eu não sei se é de tristeza

Pouco a pouco perdi a identidade

Já não vejo futuro na beleza

Sequer lembro se tive mocidade


Mãos caquéticas buscam no silêncio

Um assombro qualquer de nostalgia

E em meu leito protesto inutilmente

Contra os golpes ardis da covardia


Já na porta a tramela entreaberta

Sinaliza algo como esquecimento

Pelas gotas do sol que se inicia

Carimbando a envelope do lamento


Lábio negro qual lótus encardida

Um tapete de abelhas pelo chão

Num trabalho de pura sinergia

Dão-me a prova cruel do seu ferrão