segunda-feira, novembro 28, 2011

Bons Modos

Já estou cansado disso

De enfeites, cama e mesa

Fingir falsos acenos

“Sorria e agradeça”


Esperam muito de mim

Que eu faça e aconteça

É uma tortura se fim

“Sorria e agradeça”


E ninguém está nem ai

Para a minha tristeza

Me querem sempre assim

“Sorria e agradeça”


E se estão confusos

Com a minha frieza

Me mandam ir pro quarto

“Sorria e agradeça”


Bonequinho de lã

É fraco da cabeça

Precisa ter limites

“Sorria e agradeça”


quarta-feira, novembro 23, 2011

Metades

O escuro é como um canto

Onde o acaso é solista

Por vezes se vê o tempo

Em outras não se avista


Brincar com o que não se deve

É algo como uma reza

Em que sem querer querendo

Descumpre-se o que se preza


Se o momento é propício

Trate de aproveitá-lo

Ou entre um minuto e outro

A sorte pode levá-lo


De fato existe a certeza

De que tudo é incerto

Agora pode estar longe

Amanhã pode estar perto


O tudo e nada são partes

De uma mesma moeda

A vida segue seu curso

Por onde se envereda


sexta-feira, novembro 18, 2011

Inevitalidades

Conceber-me como um rio

Formando uma semi-listra

Rios correm e listras ficam

Cenário Surrealista


Sentado nessa cadeira

Sozinho há muitos milênios

Muriçocas a sugar

Meu sangue de falsos gênios


A mão incolor da vida

Traça suas linhas curvas

Decepando meus sentidos

Com breves tapas de luvas


As frases de auto-ajuda

Do livro dominical

Pouco a pouco se confundem

Com as matérias do jornal


Assim vão passando os dias

O inevitável vence

E eu sou as velhas janelas

Do Chanteclair recifense


quarta-feira, novembro 09, 2011

Lagarta de Fogo

Sou lagarta de fogo sertaneja

Que entre chamas cresceu nesse torrão

Dia a dia lutei minha peleja

Entre os ares ardis da imensidão

Proclamando o furor da natureza

Pelos cantos ruinosos desse chão


Sou amarga cachaça de alambique

Meu veneno dói mais que traição

Fiz-me moça rapaz e metamorfo

Sem destino sem voz e sem perdão

É assim que construo minha vida

Arrastando-me a esmo em procissão


Tenho as cores primárias da bandeira

Mesmo assim permaneço escondida

E nas folhas eu armo uma mordida

Pra quem ouse tocar-me sem aviso

Sou moléstia sem cura e sem juízo

Zombeteira imoral e desmedida


Se da vida só tive sol e fogo

Tudo herdado entre várias toxinas

Sou talvez até imune a vacinas

Pois é essa a sorte que carrego

Não me julguem cruel sou um espectro

Da vertigem dantesca nordestina